Dia de qual mulher?

Não. Este não é um blog sobre sobre televisão, mas às vezes o tema é inevitável. Desde sexta, tenho observado que as emissoras transmitem comerciais falando sobre o dia da mulher e nos parabenizando por tal dia. Senhores publicitáriOs, eu não aceito suas felicitações. Falo de publicitários, não por conta da correção gramatical, mas sim, porque não acredito que uma mulher se sinta de fato representada naqueles comerciais. Mulheres magras,altas, lindas, de cabelos lisos, vestidas em calcinhas minúsculas, ou em roupas insinuantes. Ando todos os dias pelas ruas de Salvador e não reconheço no rosto de cada trabalhadora, de cada estudante, de cada dona de casa que vejo nas calçadas, nos mercados, nos ônibus, na universidade aquela mulher ali representada (pode ser que na terra no senhor publicitário as mulheres sejam diferentes. Vai saber!). Eu não me identifico com aquele ser alienígena, com um padrão europeu, uma magreza quase anoréxica e lindos cabelos lisos. O que eu vejo são mulheres negras, amarelas, mulatas, índias e até brancas como as do comercial. Cabelos de todos os tipos(CRESPOS principalmente), todas as estaturas e estruturas corpóreas (pouquíssimas magras como as da TV.). Mulheres suadas, sem maquiagem, centradas na sua correria diária. Em nenhuma delas vejo a lascívia presente nos olhos das moças da TV. Sempre existe a possibilidade de eu ser cega, ou louca, mas, desconsiderando esta possibilidade, acho que no mundo real aquelas mulheres não representam a grande massa da população. Se ela não se parece comigo, com você, com a minha vizinha ou com aquela colega que é a mais linda da faculdade, quem é ela? Talvez a pergunta mais apropriada fosse: o que é aquilo? Aquilo é um objeto. Um objeto que permeia a imaginação dos homens que exigem que suas mulheres além de trabalhar, serem inteligentes, meigas, gentis e carinhosas sejam cheias e luxúria e vazias de celulite. Aquilo é um boneco, que serve de inspiração a milhares de adolescentes que não comem, comem e vomitam, e nunca acham que estão magras o suficiente. E quantas famílias não são destruídas pela morte de uma menina que queria ser um boneco? Aquilo é o que gera, mesmo em tempos tão modernosos, a valorização da mulher fruta em detrimento de… (Alguém me lembra uma mulher inteligente que tenha tido tanto destaque quanto uma mulher fruta?) Aquilo não sou eu e decerto não é grande parte da população brasileira.

Então por que inferno, se derreter toda quando vê uma “homenagem” daquelas na TV? Por que diabos correr para a porcaria da loja que te vê como um objeto (e como fonte de renda, é claro!) para comprar aquele inferno daquela calcinha de boneco que não é feita de tecido adequado para sua pele respirar e é anatomicamente prejudicial ao seu corpo? Para parecer um boneco e agradar o lindo machinho que espera que você além de tudo de bom que tem ainda se pareça com aquele inferno daquele modelo que em nada se parece com você? Pois é, querida leitora. Talvez tenhamos que pensar mais sobre essas coisas. Talvez não devamos nos importar com aquele cara que não nos quis por conta do manequim 42 (ele não queria você, ele queria o boneco!). E mandar para o devido lugar todas essas exigências mundanas.

Esse parágrafo é um update, porque acho que fui mal interpretada. Em momento algum eu disse, ou quis dizer, ou insinuei que devemos romper com tudo e com todos. Não sou uma baranga recalcada (e se assim fosse assumiria se fosse com a mesma franqueza). Uso maquiagem, esmaltes coloridos. Adoro blogs de beleza, tenho zil cremes, chapinha (apesar de, no momento estar deixando a cabeleira se rebelar), teimo em desobedecer a tal da moda (mesmo sabendo que de certa maneira isso é impossível e que toda negação, é de algum modo uma forma de reforço). Faço depilação, mesmo achando que a depilação seja a reprodução de um modelo misogínico e pedófilo. O fato é que, insurgir-se contra determinado sistema, não significa romper completamente como mesmo. Esse “rompimento”, que não acredito possível é um posicionamento muito mais do campo das idéias que do concreto. Porém, estar aprisionado numa determinada rede de valores e significantes, não significa reproduzi-los automaticamente (tal qual a personagem de Charles Chaplin, em Tempos Modernos), sem pensar sobre os mesmos e escolher, de forma consciente e crítica, quais aceito e quais rejeito. Como é o caso da deplilação, por exemplo, ainda que conheça os valores por trás da “obrigação social” de manter-se depilada, os meus parâmetros do que é higiene, e até mesmo estética, suplantam meu desejo político de romper com esse valor.  Minha “luta” é contra os modelos utópicos, colocados na TV como possíveis. É contra a representação da mulher por uma que não tem a minha cara, nem de 95% das mulheres que conheço. É seguir todos esses padrões como robozinhos programados para tal. É contra a a visão da mulher excessivamente sexualizada, tida ainda como objeto, em pleno século XXI. Alguém já parou pra pensar que quando a mulher se sujeita ao “todo enfiado”, à “surra de bunda” e se identifica com a mulher de calcinha do comercial, ela reforça esse modelo de objeto já tão difundido. Alguém duvida que o aumento dos casos de violência contra mulher, estejam ligados a esse reforço? O macho que perde seu objeto de posse e enlouquecido vai cobrar SEUS DIREITOS.

Aos que vêem a mulher como mulher, eu aceito de bom grado as congratulações. Afinal, o 8 de março foi o dia em que mulheres operárias que morreram queimadas dentro de uma fábrica lutando por seus direitos! E certamente elas não trajavam calcinhas anatomicamente impossíveis, nem pareciam tão sensuais como as da TV.* A você querido publicitário (formulador da dona perfeita), prefiro que fique com suas congratulações, ou que as envie a sua santa mãezinha (como certamente você não a vê do mesmo modo que representa a maioria das mulheres, pode ficar para você, mesmo!). A você querido homem, que quer uma mulher de formas perfeitas e insaciável: compre uma boneca inflável. A você, querida (o) editor(a) da revista Nova, tenho quase certeza que você é homem, se eu estiver certa, quero dizer que brincar de faz de conta  com a vida alheia é bom, né? Se é uma mulher, eu pergunto: quantas horas existem no seu dia para ser trabalhadora, linda, magra, arrumada e uma deusa do sexo tudo ao mesmo tempo? Você existe, mesmo? Juro que tenho pena de você.

E  hoje, quando alguém te desejar feliz dia da mulher, a depender de onde o desejo venha, não tenha receio de dizer: “Não, obrigada!”

Feliz dia da gorda, da feia, da assanhada, da magricela, da sem depilação, da sem tempo para ir ao salão!

*Update feito algumas horas e polêmicas depois. Talvez a pressa da primeira postagem, tenha feito que o texto não ficasse tão claro. Mas, não retiro UMA SÓ palavra do que disse!

Bom dia!

6 comentários sobre “Dia de qual mulher?

  1. Adorei o post, sempre achei meio louco esse dia da mulher ter virado apenas mais um dia comercial. Ninguém nem lembra porque raios o dia foi “inventado”, não é?
    De qualquer forma, acho que o homem que não tem medo do seu lugar na sociedade não quer esse tipo de mulher-boneco, essa coisa meio Frankstein que você, acertadamente, descreveu. Eu, pelo menos, quero muito mais uma mulher que tenha lido mais livros do que o tamanho do quadril dela. Se 1 – o conceito de beleza é extremamente volátil (sendo que na idade média eram as rechonchudinhas que eles gostavam mais) e 2 – a beleza é algo passageiro, não faz sentido escolher alguém para conviver com base em beleza.

    Infelizmente, não há o pensamento de procurar alguém para conviver. Assim como comida fast-food, filmes fast-food (aqueles de 2 horas com muita explosão, beijos e nada de conteúdo), leis fast-food, temos igualmente a mulher (e o homem também) fast-food, aquela que é saborosa por fora, mas não sustenta em nada, “feita” especialmente para uma ou duas transas. A era da hipervelocidade está realmente acabando com tudo…

    Ps.: Infelizmente, existem publicitárias que fazem sim esses tipos de propagandas. Voltamos à questão do BBB: existe gente que não tá nem aí pra honra, dignidade ou, no caso em tela, estar ou não representada em um comercial. Os comerciais não são feitos pra mostrar algo que somos. Como veículo incitador do consumo, o comercial é feito pra mostrar aquilo que queremos ser/ter/fazer/poder. Portanto, mesmo que ela se importasse em estar ou não representada naquele comercial, o lucro falaria mais alto…

    1. São tão poucos os que não se sentem atraídos por esse simulacro de mulher, querido amigo Rafa. Chegamos ao tempo em que o culto ao corpo (diferente da manutenção da saúde) virou prioridade… Estamos todos doentes, inclusive os sãos!

  2. Nem sempre consigo ser entendida… quase nunca eu diria… e meu marido vive dizendo q só eu consigo ver dois lados d algumas situações…
    Amiga minha, escrevo aqui, em mais uma tentativa (até pq vou apagar aquela bagunça do orkut só pq os outros não tem culpa dos nossos embates kkkk)…
    Eu só queria que tu entendesse que eu não discordo DO QUE está escrito… mas DO COMO…
    Acho que o qnto nos dedicamos a algo, indica a importância q isso ocupa em nossas vidas…
    É óbvio que não concordo com esses padrões, que eu msm não me encaixo na maioria…
    Talvez seja coisa minha, nosso dia-a-dia é tão cheio de “reclamações” que eu procuro escapar das que são possóveis e encontrar o q de melhor há nas coisas… Acho q a melhor forma de colocar os esteriótipos ou q mais eu não concordar, abaixo é não sustentar isso… não dar a isso uma importância que não deveria ter… pelo menos ao meu ver…
    Ficar bradando o q é desimportante pode soar um desabafo e, sinceramente, que quer viver refém de padrões, VIVA e seja feliz! Mas me tira fora dessa, por favor! rsrsrsrs
    Por isso apenas, que não me identifico tanto com o texto… pq ele abre um espaço na minha vida que não existe para isso…
    Sigo os esteriótipos femininos (se é q nossa feminilidade é toda ligada à isso!) que para mim tem algum significado e o resto que se exploda…
    E não acho q os homens querem mulheres esteriotipadas… pois a mulherada “totosa” q eu conheço (na maioria) ta solteira ou com uns caras, no mínimo duvidosos ao lado… e as meninas q mais admiro tem caras admiráveis ao lado…
    Como tudo na vida, não é fácil de achar…
    Mas se até as “totosas” não acham? O q sobra pra nós, simples mortais batalhadoras?
    Então chuchu, entenda, que meu “desencontro” com teu texto… não é teórico, mas filosofico, por assim dizer…
    O meu único problema é q não consigo ver as coisas tão pontuais e estanques… minha visão é tão relativa que acabo, talvez, vendo boas energias, no que não existe… mas sinceramente prefiro assim…
    Pq pensa q um excesso de revolta qnto ao mundo em primeira instância só vai fazer mal para mim… pq essa energia fica conosco… então se é ruim, passo adiante, não dou bola e procuro o q não é tão ruim…
    Do mais, parabéns…
    Já disse uma vez e não me penso q possa soar repetitivo que acho q tens uma escrita muito fluente e cativante, mas talves nosso modo de se relacionar com o mundo esteja distante… apenas…
    Quem sabe aos poucos eu me torne mais “posicionada” (apesar de achar q essa não é a melhor palavra… pois em considera as vezes muito posicionada, mas enfim… acho q dá pra entender…) e tu talvez mais “relativa” (o q talvez tbm não seja o melhor termo… mas bora lá)…
    O importante é q te gosto mesmo assim 😉
    Mais uma vez, meus parabéns relativizados kkkkk
    bjão
    Lia

    ps: e vá lá, não sei escrever em blog viu? Me deixe com minhas incorreções!

    1. Hahahaha! Entendo o seu não querer abrir espaço na sua vida para essas questões. Há para quem essas coisas passem desapercebidas. Eu, pelo contrário, venho estudando as duas coisas: comunicação e as questões de gênero e a “revolta” do blog, não é, de fato, revolta. São as inquietações que me movem, que me levam ao estudo e à pesquisa. Certamente meu trabalho de conclusão de pós graduação será sobre as questões de gênero e o interesse desde já, faz com que eu observe essas questões com mais afinco e me manifeste a respeito delas de tal modo que possa parecer revolta. Tenho uma tendência a me apegar nessas questões mais polêmicas e aparentemente panfletárias para estudar. Como agora, estou produzindo um artigo, sinto a necessidade de dividir minhas inquietações. E com o curso novo tem me dado material para pensar mais coisas, toda a minha indignação teórica vem parar aqui. Meus estudos tomam, inevitavelmente, ares de política e tom inflamado de paixão! Toda essa inquietação, essa vontade de pensar e escrever me deixam muito feliz, ainda que a leitura dos meus textos não transpareçam isso. O não pensar, e o não questionar é que me deixam infeliz! =)

      E mesmo, com toda nossa discordância teórica, gosto MUITO, muito mesmo de tu! Mesmo, quando vc me deve 2 saídas! Hahahaha

      Beijo imenso, flor!

  3. :***
    e o mundo sefaz de trocas
    e q nós continuemos trocando
    cd uma do seu jeito
    pq assim q é divertido!
    bjos com desejo d muita produção textual
    seja qual for
    ;****

    e se uma hora a “pseudo-revolta” pesar no corpitcho…
    me chama q a gnt toma umas cachaça (leia-se: sucos e smirnoff ice) e td fica bem!

    yeahyeahyeahyeahyeahyeahyeahyeahyeahyeahyeahyeahyeahyeahyeahyeahyeahyeahyeahyeahyeah

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